História do bairro de Perdizes
Perdizes é um bairro localizado na zona oeste de são Paulo e sua história remonta ao século XIX.


COMO SURGIU
Por volta de 1850, o vendedor de garapa Joaquim Alves Fidelis e sua mulher, Maria de Santa Rita, fixaram residência próximo às chácaras do Pacaembu, em uma área repleta de aves nativas. Em pouco tempo, o fundo do terreno passou a abrigar a criação de diversos exemplares de uma barulhenta espécie. O tal “quintal das Perdizes” chamava tanta atenção que os pássaros acabaram dando nome ao bairro, oficializado na planta da cidade em 1897. Enquanto lugares como Lapa e Barra Funda cresciam no ritmo da chegada das fábricas e linhas de trem entre o fim do século XIX e o início do XX, ali as várzeas, richos e montanhas relutavam em dar espaço às primeiras ruas. A principal seria batizada como Tabor em homenagem a um monte bíblico, ganhando só posteriormente o nome definitivo de Cardoso de Almeida, deputado e chefe de polícia que vivia na região.
PRIMEIROS HABITANTES









1916 - Igreja das Perdizes onde fica hoje o Largo Padre







Oderdan Cattani

Um dos usuários era o lendário goleiro palmeirense Oberdan Cattani, com suas mãos de gigante. Ele chegou à cidade em 1941, vindo de Sorocaba, para jogar no então Palestra Itália, sendo campeão paulista em quatro ocasiões. Acabou se casando dentro do próprio clube, em 1945. “Naquela época quase não havia carros e todo mundo pegava o bonde: ricos, pobres, jogadores de futebol e artistas”, diz ele, oje com 91 anos. Ainda não havia calçamento nem sistema de água e esgoto. “Um dia eu reclamei com o governador Adhemar de Barros, que se deu conta do problema quando ficou com o carro atolado ao vir me visitar”, relembra. “Logo depois, ele mandou calçar as ruas do trecho da Rua Desembargador do Vale e canalizou o córrego que desembocava na Pompeia”, completa Oberdan.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)










Prédios dos anos 1910 a 1940 são tombados no bairro
Essa Perdizes, hoje escondida por edifícios, tornou-se patrimônio desde o início do século passado. A Prefeitura de São Paulo aprovou o tombamento de 40 imóveis no entorno de Perdizes, incluindo Água Branca e Barra Funda. Entre elas, 37 eram originalmente residências unifamiliares. Alguns exemplos são:
EDIFÍCIO TEREZA
O Edifício Tereza, situado na Rua Turiassu, é um bom exemplo de prédio que chama a atenção por sua arquitetura. Ele é conhecido por seu design eclético e faz parte do patrimônio arquitetônico da região.
EDIFÍCIO LOUVRE
É um prédio residencial de estilo Art Déco localizado na Rua Ministro Ferreira Alves, e é um dos exemplos arquitetônicos marcantes do bairro. Sua fachada elegante e detalhes arquitetônicos são apreciados por sua preservação e estilo característico.
SANTA MARCELINA
O imóvel funcionou como internato feminino, externato e, na década de 70, abriu as portas também para rapazes. Hoje circulam por ali cerca de 1 100 alunos, distribuídos entre berçário, educação infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
CLEMENTE FALCÃO
Este conjunto de casas, localizado na Rua Ministro Godói, é um exemplo de arquitetura residencial tradicional em São Paulo. Embora não seja um prédio único, o conjunto como um todo é considerado de interesse histórico.
Moradores ilustres que Perdizes já teve
MARIO DE ANDRADE
Mário de Andrade, um dos nomes mais importantes da literatura brasileira do século XX, teve uma parte significativa de sua vida associada ao bairro de Perdizes, em São Paulo. Ele nasceu em 9 de outubro de 1893, em São Paulo, e se tornou um dos principais expoentes do modernismo brasileiro.
A relação de Mário de Andrade com Perdizes começou em 1921, quando ele adquiriu uma casa na Rua Monte Alegre, 1.111, que hoje é um importante ponto cultural, conhecido como o "Casa Mário de Andrade". A casa tornou-se um espaço central para o movimento modernista em São Paulo, onde Mário de Andrade recebia intelectuais, artistas e escritores, incluindo nomes como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e outros.



Lima Duarte é um famoso ator brasileiro, Lima Duarte, também é conhecido por ter morado em Perdizes. Sua trajetória na televisão e no cinema o tornou uma das figuras mais reconhecíveis do cenário artístico do Brasil.
Paulo Maluf foi um Político brasileiro, foi prefeito de São Paulo e governador do estado, também é associado a Perdizes. Ele possuía uma residência no bairro.


Caetano Veloso é um importante músico e compositor. Caetano residiu em Perdizes durante um período de sua vida.
Zeca Baleiro foi um cantor e compositor, Zeca Baleiro, também é conhecido por ter vivido em Perdizes.
Tatá Werneck é humorista e atriz. Tatá Werneck é uma das personalidades contemporâneas associadas a Perdizes, tendo vivido no bairro.







Após alguns anos a chácara foi vendida e loteada, mas a expressão “quintal das perdizes” se perpetuou e passou a denominar o bairro.
A partir de 1905 o crescimento da região começou. No princípio era composto por terrenos rurais e chácaras pertencentes às famílias tradicionais da elite paulistana. Graças à inauguração da estrada de ferro Sorocabana o crescimento foi intensificado e na década de 1940 o bairro se consolidou.
Estrada de ferro Sorocabana
Rua Turiassú 1940
Os primeiros habitantes eram em grande maioria famílias ligadas à agricultura e pecuária, isso pois o local era uma zona rural, mas que tinha proximidade ao centro da cidade e à ferrovia.
As pessoas que queriam escapar do agito urbano escolhiam a região para morar, sendo assim, aos poucos as famílias ricas foram se instalando na região e construindo casarões e mansões nas ruas arborizadas.
No então Largo das Perdizes, a pequena Capela de Santa Cruz serviu para a celebração de missas entre 1881 e 1902. Demolida, deu lugar à Paróquia São Geraldo, aberta com arquitetura provisória em 1914. A construção atual é de 1932. “O Conde Francisco Matarazzo foi um dos maiores apoiadores e financiadores da obra”, afirma o pároco José Augusto Schramm Brasil.
A igreja também guarda um tesouro histórico: o sino Bronze Velho, que anunciou a proclamação da Independência aos moradores da cidade. “A doação ocorreu durante a reforma da Catedral da Sé, após uma procissão que foi até o Anhangabaú, em 1942”, completa. Anos depois, o largo ganhou o nome do padre Péricles, o primeiro pároco da capela, hoje sepultado sob o altar principal.
Sino na torre da Igreja Católica São Geraldo
PARQUE DA ÁGUA BRANCA
Entre 1912 e 1919, o agrônomo Fernando Costa foi vereador e prefeito de Pirassununga e deputado estadual. No dia 2 de junho de 1929, quando era secretário de Agricultura, inaugurou o parque na zona oeste de São Paulo. Em 1950, o local recebeu o nome de “Dr. Fernando Costa”, em homenagem ao seu fundador. O lugar é conhecido popularmente como “Parque da Água Branca”. Mas por que Água Branca?
O córrego que corta a região tinha uma água bem limpa, daí vem “Água Branca”, literalmente pelas águas claras.
O parque é referência na cidade de São Paulo. Em 1996, foi tombado como patrimônio histórico, cultural, arquitetônico, turístico, tecnológico e paisagístico pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado). O local possui 137 mil metros quadrados, com cerca de 80 mil metros quadrados de área verde e conta com várias atrações, como exemplo, o Aquário, que possui várias espécies de peixes do estado, e o Museu Geológico, onde são encontrados fósseis, minerais, rochas e documentos antigos de explorações geográficas em São Paulo.
Parque da Água Branca em 1929
Parque da Água Branca entre os anos de1939 e 1942
DÉCADA DE 40
Colégio Batista Brasileiro
A década de 40 marcou o início do desenvolvimento. O bonde Perdizes 19 ligava o bairro à Praça do Correio, e os alunos dos colégios Batista Brasileiro, Santa Marcelina e Assis Pacheco costumavam se agarrar a seu para-choque traseiro, sob as constantes broncas dos motorneiros. Outra linha unia os largos das Perdizes e da Pompeia e se conectava com a Barra Funda.
EDUCAÇÃO
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foi fundada em 1946, mas o câmpus da Rua Monte Alegre só surgiu em 1949, no antigo prédio do Mosteiro de Santa Teresa, habitado por freiras carmelitas desde 1923. Os velhos quartos deram lugar às salas de aula, e o terreno de 18.000 metros quadrados abrigou o crescimento da instituição. Funcionário do setor de recursos humanos da PUC há cinquenta anos, Jorge Eugênio Alves se mudou para Perdizes na década de 1960 e lembra com saudade das vias de terra e de paralelepípedos cercadas por pés de amora e bananeiras. “A Avenida Sumaré terminava num pântano e tinha um ribeirão. Para cruzá-lo, as pessoas passavam por cima de tábuas de madeira”, diz. “Ao longo dela, havia dois campinhos de futebol de várzea, onde os moradores se encontravam nos fins de semana para partidas de solteiros contra casados.” Na PUC existia um gramado que abrigava os “rachões” de alunos.
Colégio Santa Marcelina
O colégio Santa Marcelina iniciou suas atividades em Perdizes em 1927 só aceitando alunas. Anos depois, passou a aceitar os meninos. Em 1985, o colégio foi ampliado com a inauguração do prédio anexo. Desde que se instalou em Perdizes, o Santa Marcelina mantêm uma relação bem próxima com o bairro e a região.
TEATRO TUCA
Um local imponente que tem parte importante na história do Brasil. Inaugurado em 1965, o Teatro da Universidade Católica, o TUCA, foi palco de manifestações políticas durante o período da ditadura. À época, o local serviu de interesses educacionais, culturais e sociais, ajudando na redemocratização do País. Grandes espetáculos e artistas passaram pelo TUCA, como Elis Regina, Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Caetano Veloso.
Sua história é marcada por incêndios na década de 80, tombamento como patrimônio histórico de São Paulo, reconstrução e restauro. As instalações do teatro impressionam. Na sala principal, há 672 poltronas, telão de 6 metros de altura e 8 de largura, além de iluminação cênica potente e seis camarins. No site do TUCA, é possível fazer um tour virtual para entender a grandiosidade do espaço.
Em 1998, a fachada e a implantação volumétrica foram tombadas pelo Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo. O que ajudou o Teatro TUCA a levar esse importante título, sem dúvida, foi a importância e a representatividade do espaço na época da ditadura. A cerimônia oficial aconteceu anos depois do anúncio do tombamento, em 2002.
TEATRO TUCA 1986
MANIFESTAÇÃO PARA RECONTRUÇÃO DO TEATRO
Com o tempo perdizes se estabeleceu como um bairro diversificado, com uma arquitetura ampla, (mesclando edifícios modernos e históricos) com um comércio variado, possui universidades, restaurantes, bares, praças e parques, como o Parque da Água Branca que é uma das mais importantes áreas verdes de São Paulo.
Podemos concluir que o bairro Perdizes passou de uma região rural com chácaras e propriedades de elite para um bairro diversificado, com forte influência acadêmica e arquitetônica. Sua trajetória reflete o desenvolvimento e mudanças que ocorreram em São Paulo ao longo dos anos.